Conexões de Saberes-UFG

16 junho, 2010

O que é Economia Solidária

Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio bem.

A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como inovadora alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.

Nesse sentido, compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas sob a forma de autogestão. Considerando essa concepção, a Economia Solidária possui as seguintes características:

  1. Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária. Envolve diversos tipos de organização coletiva: empresas autogestionárias ou recuperadas (assumida por trabalhadores); associações comunitárias de produção; redes de produção, comercialização e consumo; grupos informais produtivos de segmentos específicos (mulheres, jovens etc.); clubes de trocas etc. Na maioria dos casos, essas organizações coletivas agregam um conjunto grande de atividades individuais e familiares.
  2. Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc. Os apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação.
  3. Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais.
  4. Solidariedade: O caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e da melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio ambiente saudável; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Considerando essas características, a economia solidária aponta para uma nova lógica de desenvolvimento sustentável com geração de trabalho e distribuição de renda, mediante um crescimento econômico com proteção dos ecossistemas. Seus resultados econômicos, políticos e culturais são compartilhados pelos participantes, sem distinção de gênero, idade e raça. Implica na reversão da lógica capitalista ao se opor à exploração do trabalho e dos recursos naturais, considerando o ser humano na sua integralidade como sujeito e finalidade da atividade econômica

08 abril, 2008

Conexões de Saberes realiza encontro entre os mundos do conhecimento



Entre os dias 09 e 10 de abril (quarta e quinta), o auditório do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA) será palco de palestras, debates, mesas redondas e oficinas do III Seminário Local do Programa Conexões de Saberes, que, este ano, terá como tema Articulações entre o Popular e o Cientifico: 2 anos de Conexões de Saberes na UFG.

Nacionalmente, o Programa Conexões de Saberes - diálogos entre Universidade e Comunidades Populares - teve início em 2004 e atualmente abrange 34 universidades públicas de todo o país. Seu objetivo não é apenas facilitar as articulações entre a universidade e as comunidades populares, mas proporcionar uma troca de conhecimentos entre ambos.

Dessa forma, a participação no seminário é aberta para toda a comunidade e será oferecido certificado de horas complementares. As inscrições são gratuitas e realizadas na entrada do evento.

* PROGRAMAÇÃO COMPLETA:



Dia 09/04 (Quarta)

8h – Abertura e apresentação musical do grupo Vidas Secas

9h – Mesa Saberes Populares, Saberes Científicos

Composição: Denise Botelho(UnB), Tânia Rezende (FL – UFG) e Ivanilde Batista (ANEPS)

11h – Apresentação do Vídeo Vox Populi (Direção: Renato Cirino e Renato Rodrigues)

14h – Apresentação da peça teatral Julgamento do Mérito (Equipe de teatro Conexões de Saberes UFG)

14h30 – Mesa Capoeira e Hip Hop: Manifestações da Cultura Negra

Composição: Claudinho (Movimento Hip Hop) e mestre Guaraná (Capoeira)

15h30 – 17h – Oficinas


Dia 10/04 (Quinta)



8h30 – Apresentação do Caminhadas (Equipe de teatro Conexões de Saberes UFG)

9h – Mesa 2 anos de Conexões de Saberes na UFG.

11h – Apresentação do Vídeo Conexões de Saberes

14h – Mesa Fórum dos Estudantes de Origem Popular da UFG: articulações e formação para ações afirmativas

16h – Encerramento e tenda Saberes e Saberes

08 setembro, 2007

II Seminário Local Conexões de Saberes

Acesso e permanência de estudantes de origem popular na UFG

Após um ano de implantação do Programa Conexões de Saberes na UFG diálogos entre universidade e comunidades populares, em face do projeto que esta sendo implantado UFG INCLUI, o Conexões realizou seu II Seminário Local no dia 29 de agosto de 2007.
Primeiramente, pela manhã foi realizada uma Mesa Redonda com o objetivo de discutir as propostas de acesso diferenciado na UFG.

Contamos com a participação da UFMA-Profº Álvaro Pires, Maria Gorete do CABENAS e da UFG-Profº Juarez Maia da FACOMB. Durante as falas, o Profº Álvaro Pires salientou sobre a implantação de cotas na UFMA e da resistência da classe média. Maria Gorete discutiu sobre como o negro é visto no meio acadêmico com relação à produção de conhecimento e sobre a forma como o projeto UFG INCLUI se configura, que é por meio de uma porcentagem mínima que compromete ainda mais a entrada de estudantes de escolas públicas negros (as) e indígenas.

O Profº Juarez Maia nos contou sobre sua experiência de implantação de cotas em Moçambique e nos disse também que ocorreu o mesmo discurso de resistência a cotas. Em sua fala, o sistema de cotas vem para estabelecer o equilíbrio, pois, se há necessidade de inclusão é porque há exclusão. Ao término das falas e do debate o período da manhã se encerrou.

O seminário retornou ás 14:00 h com a apresentação do Programa Escola Aberta. Uma representante da Secretaria Municipal de Educação expôs de forma detalhada o funcionamento do programa, que beneficiará alunos de escolas públicas e também a população local através de diversas oficinas de lazer, esporte, culinária, educação, cultura, etc.

Em seguida, com uma mesa coordenada pela professora Geovana, tivemos uma apresentação do Programa Conexões de Saberes pelo bolsista Silas. Após a apresentação, houve um debate sobre Ações de Permanência de alunos de origem popular na Universidade Federal de Goiás (UFG), que contou com a participação da aluna e bolsista Rosângela e o professor Alex Ratts. Infelizmente, o debate foi prejudicado pela ausência do Reitor da UFG e da Pró-Reitora de Graduação (PROGRAD), que eram imprescindíveis para que o debate pudesse acontecer de forma plena. A ausência foi justificada mediante o falecimento da diretora do Centro de Seleção da UFG, e os dois se encontravam de luto no presente momento.

A aluna Rosângela expôs em nome do Fórum de Estudantes de origem popular, as dificuldades enfrentadas pelos mesmos e expôs algumas questões sobre políticas de permanência na UFG, que infelizmente ficaram sem respostas devido à ausência do Reitor e da Pró-Reitora de Graduação. Em seguida, o professor Alex Ratts falou sobre sua trajetória e sua luta por Ações Afirmativas, bem como a sua posição a favor das mesmas. Após sua fala, houve um pequeno debate onde foram respondidas as perguntas levantadas pelas pessoas presentes no Seminário.

Concluindo, podemos dizer que o Seminário foi importante, pois trouxe esclarecimento sobre Políticas Públicas de Acesso, Inclusão e Permanência de alunos de origem popular na UFG, a pessoas que pela 1º vez tiveram a oportunidade de conversar sobre o tema. Também tratou da questão sobre Ações Afirmativas, que hoje em dia, se fazem urgentes e necessárias. Tivemos, por fim, a participação de mais ou menos 150 pessoas.

Lilian Araújo

17 agosto, 2007

Seminário discute acesso e permanência de estudantes de origem popular na UFG


Data: 29/08/2007
Local: Auditório do IESA (campus II)
Horário: 8h-12h / 14h - 17h


Nesse momento em que a UFG propõe medidas na expectativa de aumentar o acesso de estudantes oriundos de escolas públicas, o programa Conexões de Saberes (PCS) promove seu II Seminário Local com a temática Acesso e Permanência de Estudantes de Origem Popular na UFG.

O evento será realizado no próximo dia 29, quarta-feira, no auditório do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa-UFG). Aberto à participação de estudantes, professores e comunidade externa, o seminário tem como objetivo dar visibilidade e aprofundar as discussões sobre as demandas e as políticas de acesso diferenciado e permanência na universidade.

Entre mesas redondas e debates, estão previstas atividades nos períodos matutino e vespertino. As mesas contam com a presença de representantes da Reitoria da UFG, Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Coordenações nacional e local do Programa Conexões de Saberes e Fórum Local dos Estudantes de Origem Popular. As inscrições são gratuitas e os participantes terão direito a certificado.

Programação geral

8h – Mesa de abertura
8h30 – Mesa Redonda: As propostas de acesso diferenciado na UFG
9h30 – Debate
11h – Apresentação de produções e trabalhos do PCS local
12h – Intervalo para almoço
14h – Mesa Redonda: Ações de permanência para estudantes de origem popular na UFG
15h – Debate
16h30 – Encaminhamentos e Encerramento

19 março, 2007

Marcados no coração

O dia-a-dia neste período de minha vida era de pouca diversão. Tinha 13 anos. Mas conheci um grande número de pessoas e fiz amizades inesquecíveis. O que vivi neste período faz parte do que sou hoje. Valores humanos, olhar a pessoa por dentro, no fundo dos olhos, sem observar vestuário e modos, eu aprendi até com aqueles que se juntavam para fazer pequenos furtos e arrumar brigas com gangues adversárias.

Na padaria da minha mãe onde trabalhava de dia e a noite, mantinha contato com os outros comerciantes e neste convívio os laços se tornam fraternos. O dono do pregão, o chaveiro e seus filhos, a mecânica, do conserto de bicicletas, da lanchonete concorrente, os funcionários da loteria, enfim todos trocavam experiências e vivências.

Nas intermináveis tarde atrás do balcão, preocupado com moscas e a limpeza do ambiente, tinha um companheiro fiel e zeloso. O Chico era um solitário senhor de seus 50 anos que realmente não batia muito bem da cabeça. O que ele mais repetia era que queria um gole de café com um cigarro. Não fazia mal a ninguém e se deixasse fumava uma carteira de cigarro em três horas.

O Chico tinha uma mania muito especial: limpar a calçada. Mas não era com vassoura não, era na mão mesmo. Abaixava e levantava para recolher tudo que era de se jogar no lixo e deixava a calçada limpa. De certa forma incomodava, porque acreditávamos ser uma atividade inútil. A gente proibia, pedia para parar, mas não tinha jeito, era o que queria fazer. E a inutilidade estava em nós de acharmos sua atividade sem fins.

Num domingão daqueles de nada e ninguém, estávamos nós, sentados olhando a rua quando de repente aparece um carro da ROTAM (polícia especial de Goiânia que mete medo em qualquer um). Os policiais vieram de ré, quase enfiaram o carro dentro da panificadora Santo Cristo e desceram todos de uma só vez. Juro que assustei.

Nessa época o Chico enfiou na cabeça que precisava de hum milhão de reais emprestado para comprar um caminhão e ajudar um sobrinho que tinha um comércio de frutas no Ceasa. Pedia emprestado para quem via pela frente. E jurava pagamento do mesmo na semana seguinte. Eu mesmo escutava isso o dia todo.

Pois então, o tenente, mais quatro soldados, pediu uma Coca – Cola para beber. Eu só tinha Pespi. Fez cara feia, relutou, quase foi embora, mas aceitou. Nisso o meu querido amigo Chico se aproximou, olhou bem na cara do policial e anunciou: “Hei, me empresta hum milhão até semana que entra. Eu te pago”. Na hora fiquei preocupado, expliquei e o policial entendeu. Com a negativa do PM, restou ao Chico pedir um pouco de refrigerante e um cigarro do que o mesmo fumava. Eu dei risada o resto do dia. Ele também. Tenho muitas saudades dele, como queria revê-lo.

Os momentos difíceis eram proporcionados pelos marginais que na padaria apareciam. O pior era o Sorriso. Bebia refrigerante, comia bolo, salgado, rosca, tomava sorvete e nunca pagava. Quando não se retirava me olhando com aquela cara irônica era porque um caminhão chamava toda a sua atenção.

Tinha um quebra-mola na frente da panificadora, que quando o caminhão reduzia a velocidade para passar, o Sorriso saia correndo, pegava rabeira e furtava o que tinha em cima. Era impressionante a agilidade dele. Descia botijão de gás como quem bebe água. E sempre dava fim no produto de roubo.

Às vezes sumia semanas, mas quando aparecia me aterrorizava. Já chegava sorrindo e eu quase morrendo. Um dia a noite estava no telefone a conversar com uma amiga quando o Sorriso apareceu de fininho. Desta vez não tinha aquele sorriso, estava afoito, ansioso, agitado. Depois de alguns minutos, invadiu a padaria foi até o caixa e tentou pegar o dinheiro que ali tinha.

Entramos em luta corporal, trocamos empurrões até que ele desistiu e me devolveu a grana. Ficamos um tempo calado. O Sorriso então começou a falar: “num quero te roubar não é que eu tava preso e estou na fissura para fumar merla (que usa o resto de cocaína misturada a solução de bateria e é vendida em pequenas latas de alumínio. Uma das piores drogas que já conheci)”.

Nisso o Sorriso começou a esmurrar uma parede chamuscada com tanta força que sua mão começou a sangrar. Passou o primeiro caminhão e o motorista percebeu. O segundo também. Ele voltava mais nervoso e agitado. Foram umas cinco porradas. Não agüentei ver seu estado de abstinência, sua mão sangrava muito. Peguei dez reais e lhe entreguei. O Sorriso agradeceu e no primeiro caminhão ele se agarrou na busca da substância que o deixava naquele estado. Na outra semana comeu, bebeu refrigerante e como sempre saiu sem pagar.

Vasconcelos Neto, estudante de jornalismo e bolsista


17 março, 2007

Conectando saberes: saúde e ciências humanas

Uma análise superficial das ciências revelaria um distanciamento, considerado por muitos como óbvio, entre a saúde e as ciências humanas, entidades paralelas, porém distintas e particulares o suficiente para impedir qualquer ligação entre ambas. Entretanto, existe uma estreita relação entre saúde, arte, filosofia, história, que não pode ser esquecida, como tem feito a sociedade moderna, quando separa a saúde das ciências humanas. Não é saúde também um objeto de estudos das ciências humanas?

O sistema neoliberal, com sua lógica mercantilista e reducionista, distanciou totalmente a saúde de valores humanísticos, tornando o profissional de saúde um prestador de serviço e o paciente, um cliente. Isto transformou a relação profissional – paciente, relação esta até então estreitada em laços humanizados, em uma relação mercadológica, de simples troca de serviço.

Ao criar o Projeto HumanizaSUS, o Ministério da Saúde inicia um trabalho de (re)humanização da saúde, tentando resgatar para a saúde pública valores corrompidos pelo sistema neoliberal com sua lógica mercantilista. Nesse contexto, oferecer saúde não significa apenas atender a doença do paciente, mas sim, reverter esta lógica, de forma a levar em conta, também, as questões psicológicas e culturais, para um atendimento integral ao cidadão. Para conseguir isso, é preciso sem dúvida que a saúde esteja totalmente inserida no contexto das ciências humanas e sociais, reaproximando esses saberes distintos, porém indissociáveis.

Para corroborar com esta nova perspectiva de saúde, as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Medicina, estabelecem que a “estrutura do curso de Medicina deverá incluir dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e valores orientados para a cidadania”. Desta forma, o profissional da saúde deve atuar na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.

A saúde perdeu seu caráter humanista devido à enorme influência que a prática médica sofreu de uma visão reducionista e mercantilista, tanto de Homem como de Ciência. Para frear este processo de (des) humanização da saúde, faz-se necessário abortar toda e qualquer tentativa de distanciar a saúde da arte, da cultura, da filosofia, e porque não dizer da literatura. Aliás, já há algum tempo, a literatura vem tentando conectar arte e saúde. A literatura, em certo sentido, modificou e aproximou a relação entre saúde e arte, ao se tornar porta-voz, em muitas ocasiões, das necessidades e anseios do brasileiro no que se refere às suas condições de saúde.

Conectar saúde com arte, ética, filosofia, sociologia, literatura e muitas outras áreas do conhecimento deve ser o passo inicial para o rompimento do paradigma neoliberal que fragmenta o conhecimento em partes distintas e não relacionadas com o todo. O homem deve ser compreendido em suas implicações psicológicas, sociais, relacionais, históricas, antropológicas e culturais.

Parafraseando Godofredo Rangel em fala sobre Euclides da Cunha - “o grande triunfo de Euclides foi meter um pouco de ciência na literatura” - , diríamos que o grande triunfo do homem contemporâneo será introduzir um pouco de arte, de cultura, de ética e de sociologia na ciência da saúde. Apesar de separadas cartesianamente, a saúde e as ciências humanas precisam andar juntas para se garantir saúde em sentido amplo a todos os Jecas Tatus espalhados pelo Brasil.

Enquanto esses saberes forem pensados como antagônicos, continuará existindo um modelo assistencialista que exclui e impede que todos, sem distinção de cor, raça ou status social tenham acesso a uma saúde de qualidade, integral e, acima de tudo, humanizada, capaz de compreender os intricados fenômenos históricos, sociais e emocionais que permitem à pessoa construir seu adoecer.

Alan, estudante de medicina e bolsista.

10 março, 2007

Universidade além do Campus


Ensino, pesquisa e extensão são as funções básicas da universidade e conforme o artigo 207 da Constituição Brasileira, as Instituições de Ensino Superior, IES, devem obedecer ao princípio da indissociabilidade desses três pilares. Entretanto, a realidade universitária revela que a Extensão parece ser a preterida da academia. Desconhecida para muitos e desvalorizada por outros tantos, ela ocupa um papel secundário no processo de formação acadêmica.

Falta informação e incentivo. Muitos estudantes concluem a graduação sem conhecer ou participar de nenhum projeto de extensão e não é raro encontrar universidades, principalmente particulares, que sequer desenvolvem trabalhos dessa natureza. Dentre as possíveis explicações para tal fenômeno, uma se sobressai: do ponto de vista mercadológico, que parece gerir todo o sistema educacional, extensão é perda de tempo. Em contrapartida, há quem compreenda a importância dessas atividades e, por isso se torna cada vez maior o número de iniciativas em todo o país. O ensino superior agradece!

Essa transposição de muros e portões, entretanto, apesar de ser um importante passo para a flexibilização da estrutura das IES e consequente democratização do ensino, de modo algum pode ser considerada um ponto final. Há que se (re)avaliar os moldes que sustentam essas intervenções, desde seus objetivos até os resultados. Muito mais que assistência, a extensão universitária eficaz deve instigar e oferecer condições para a participação. Muito mais que entregar respostas, deve fomentar questionamentos.

Não há espaço para dúvida sobre a necessidade de que o conhecimento acadêmico não fique restrito ao campus. É prudente e real a prerrogativa de que uma universidade ilhada, alheia ao contexto em que se localiza, não cumpre com sua responsabilidade social e perde a oportunidade de oferecer aplicabilidade ao ensino, já que quadro e giz não são capazes de fazê-lo. Porém, para muito além disso, tem-se fortalecido um novo modelo de extensão, menos autoritário e presunçoso, no qual os projetos atuam como uma ponte permanente, pela qual circulam livremente os saberes científico e popular.

Nesse modelo, a universidade abre espaço para as manifestações, necessidades e aspirações das comunidades, o que resulta numa relação mais ampla e cíclica de ensino-aprendizagem. Nesse processo a universidade finalmente começa a abrir mão da posição em que se colocara, a de detentora exclusiva do conhecimento. Nessa via de mão dupla em que universidade e sociedade interagem entre si, influenciam-se mutuamente, permeam-se, pressupõe-se uma troca de valores que seja capaz, por exemplo, de levar para a realidade das comunidades populares os benefícios práticos do ensino produzido pelas diversas áreas do conhecimento científico e ao mesmo tempo de permear de humanidade as rígidas estruturas da ciência.

E fica a expectativa de que esse modelo, hoje sinônimo de exceção, chegue a um dia tornar-se comum. E mais que isso, que ao deixar de ser novo, possa, por meio de constante reflexão e reinvenção, ser superado por outros modelos ainda mais eficazes na busca por uma sociedade cooperativa e igualitária.

Fran Rodrigues,
estudante de jornalismo e bolsista