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19 setembro, 2006

Saúde, doença e ocupação espacial

A desigualdade é o traço histórico e estrutural da sociedade brasileira. Esta se reflete em todos os espaços sociais, mas se agiganta quando tratamos dos grandes aglomerados humanos, devido ao processo de urbanização descomposto e desequilibrado vivido por nosso país.

Nas cidades a desigualdade se amplia graças à segregação das populações pobres aos espaços para os quais o Estado e sociedade reservam os piores e menos eficientes serviços públicos. Não é difícil perceber que esta marca social perpassa os serviços de saúde, revelando as disparidades sociais no que se refere ao processo saúde-doença. As desigualdades sociais são hoje fatores determinantes das formas de adoecer e morrer numa sociedade.

Estudar a incidência de doenças e mortes numa determinada região significa também analisar a situação geográfica, econômica e social daquele grupo.


Para compreendermos esta intrínseca relação entre ocupação do espaço, desigualdade social e saúde citamos o grande geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), que dizia: "o homem não é apenas o habitante de um determinado lugar, mas também o produtor, o consumidor e o integrante de uma classe social que ocupa lugar específico e especial no espaço". Assim, o processo de ocupação do espaço das cidades, desde seu início (passado) até o momento (presente) se refletirá no futuro, e é parte inerente e determinante das condições de vida e saúde.


Por mais que se tente minimizar os efeitos da segregação sócio-espacial na saúde pública, as crianças pobres da periferia urbana continuam morrendo mais do que as ricas dos setores nobres. Elas estão mais expostas a doenças simples (exemplo diarréia), têm menor cobertura vacinal, maior probabilidade de adoecer, menos resistência às doenças, mínimo acesso aos serviços de saúde, pior qualidade da atenção recebida e menor acesso aos serviços de média e alta complexidade.

Está claro que as cidades expressam mais do qualquer outro espaço urbano a desigualdade no adoecer e no morrer. Desta forma não se pode intervir no processo saúde-doença sem se levar em conta os determinantes espaciais, sociais, políticos e econômicos.

Enfrentar as desigualdades na saúde é um dos maiores desafios dos profissionais da área, e, a partir desta compreensão, profissionais da área são médicos, enfermeiros, nutricionistas, biólogos, assistentes sociais, sociólogos, geógrafos, enfim, todo profissional capaz de atuar em qualquer das muitas vertentes determinantes das condições de vida e saúde da população.

Alan Rodrigues, bolsista

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