Conexões de Saberes-UFG

03 outubro, 2006

Por uma linguagem mais democrática


A linguagem é a ponte usada pelos humanos para a comunicação. Nela estão impressas as peripécias que as culturas percorreram e ainda percorrem. Termos milenares, que pariram expressões centenárias, estão na boca de todos e todas. As gírias por sua vez, marcam a presença da contemporaneidade e mostram que a língua é viva e passa por modificações. Por isso, as gírias, retratam a cultura humana como algo intimamente ligado aos tipos de relações sociais que cada povo teve.

A partir daí gostaria de explanar sobre uma língua: A portuguesa. Mais especificamente a goiana, e ousar a navegar por um recorte espacial mais específico: A Universidade.


A academia possui um simbolismo quase mítico, pois lá é o lugar de se falar em ciência, em conhecimento, e sobre as várias formas de ver o mundo. É na universidade que emana o poder do saber e isso a coloca em um pedestal à beira do dogma. As posições dentro da academia, diga-se de passagem, são bem definidas: até que se chegue a um nível mínimo de poder intelectual comprovado, é simples, você não é um ser pensante.

Isso, porém não significa que o endeusamento de mestr@s e doutor@s dentro da academia abafe críticas e burburinhos incessantes. Não se trata exatamente de uma luta de classes dentro da universidade, mas sim de acontecimentos necessários para a mudança de certos vícios que podem ofender a determinadas categorias.

O vício de linguagem é um exemplo pertinente. É muito interessante pensar a cerca dos caminhos que a humanidade construiu, sobre a história humana e biológica, em relação as adaptações ocorridas em longo prazo que foram no mínimo arrojadas. Mais adiante podemos pensar sobre a trajetória humana, as relações complexas que foram se formando, sobre as guerras, a paz, os movimentos sociais, a luta de classes, de etnias, de gênero, e por aí eu paro.

Paro para falar que nesse momento, quando gênero ainda significava "mulher", muitas delas se dedicaram a esta causa para descobrirem afinal "O que é a mulher?", e a partir daí contribuir para o conhecimento humano. E há de se convir que foi e ainda é uma luta admirável, afortunada, que visa contemplar com respeito e justiça todos os seres humanos, independente de sexo.

Após a década de sessenta, no mundo ocidental, as transformações geradas pela inserção da mulher no mercado de trabalho são gritantes. A quantidade de mulheres chefes de família comprova que elas habitam, não só os espaços privados, mas também a vida pública. O desdobramento disto é uma metamorfose chocante de uma sociedade embasada em paradigmas que não acompanham as experiências humanas acumuladas.

Pode-se saber só agora, após outras experiências vividas que certas idéias não servem para explicar o mundo em que vivemos, pois as relações humanas são complexas e dinâmicas. Então por que desprezar o conhecimento humano acumulado e continuar agindo de forma reducionista? Por que não incluir as mulheres na linguagem? Por que não reconhecer verbalmente a presença delas em uma sala de aula ou em um lugar qualquer?

Significa que o simples uso de um artigo - o masculino - presente na linguagem formal e até mesmo científica nega toda a luta das mulheres. Porém, o uso da linguagem inclusiva não se trata de um esforço estratosférico de mudança de hábitos, mas sim uma reflexão sobre a linguagem machista e reducionista que rege o mundo acadêmico e que é automaticamente repassada aos futuros educadores.

A inclusão das mulheres na linguagem é apenas um viés dentre tantos outros que precisam ser revistos dentro da sociedade e especialmente dentro da academia. Nossa língua é repleta de preconceitos que foram historicamente plantados e em algum momento devemos enfim romper com estas idéias que coagem alguns perfis de pessoas. Para tanto será necessário uma nova semeadura, de onde possamos colher mais amor, respeito e finalmente libertar os escrav@s dos preconceitos.


Maiana Gomes Magalhães - Geografia, bolsista